Episódio 439
"As razões não são simples e são demasiado íntimas. Não tenho de dá-las. Talvez seja necessário ser eu, estar no meu lugar e ter o meu nome para entendê-las por completo. Essa é a natureza da pele. Para nós próprios, a pele é aquilo que nos protege, a fronteira entre a nossa presença e o mundo físico, o aparelho sensível que capta a percepção daquilo com que interagimos. Para os outros, essa mesma pele é a nossa superfície, a aparência. E, já sabes, a aparência é tão enganadora, a superfície é tão superficial.
Também é comum admirarem-se com o carácter definitivo das tatuagens, perguntarem-me se não tenho medo de me arrepender. Sorrio. Emociono-me com a inocência daqueles que não percebem que tudo é definitivo e deixa marcas. Eu escrevo livros. Sei que tudo é definitivo e nada é eterno.
Sim, dói fazer piercings e tatuagens. Não, não são uma picadinha e não, não são umas cócegas. Para quê fazê-lo? Já respondi, cada um terá as suas próprias razões. São individuais e ninguém devia sentir-se ameaçado por elas.
(...)
Em casa, tomo banho. A água morna na minha pele. Deslizo as mãos pelo meu corpo. É meu. Estou dentro dele."
excerto do texto, "Debaixo da roupa, estamos todos nus - in "Abraço"
de José Luis Peixoto
Este texto explica muito do que sinto sobre esta (a primeira) tatuagem que fiz... Ouvi este texto pela boca do autor precisamente no dia em que a fiz no estúdio.
Não podia ter sido mais oportuna...
A razão... mudança de vida... fim de um ciclo... necessidade de sentir comigo, mesmo que a milhares de kms de distância aqueles que me amam, protegem... aqueles que ficam muito para lá da epiderme.
Representados: Mãe, pai, irmãos e cunhadas... 3 sobrinhos e... A Avó... porque há sempre uma mão que nos guia.
Desculpa a extensão do texto, Gui, que a tua mão seja guiada com traço firme por muito e muito tempo.